sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Calei

Na penumbra assim da mente,
no sentimento escuro,
deserto que quis gelado.
Tão confuso.
Perdi.
- Fica. - mas acho que a voz não saiu.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Perdas

Em um dia típico de outono o raio de sol chega assim desavisado, não tem lugar pra ele.
É do tipo inevitável, nem se preocupa se você quer sentir o frio.
Toca e pronto.
E de repente o frio passa e o calor do sol ganha seu espaço, sua pele. Domina.
Mas sempre vai, sempre ele que vai.
Pra quem fica, causa tons saudosos à luz da Lua.
Admiro raios de sol.
Não sou ele não, sou aquele friozinho que dá pra escapar com um casaco e capuz.
Aquele que avisa: Ei, vou esfriar mais agora ... se agasalhe !
Analiso minha própria temperatura e sou sempre noticiado nas previsões do tempo
e eu mesmo que me anuncio: Vou chegar dia 10, quero causar faltas de ar e palpitações.
Friozinho pretensioso que sou. Mas assim que passo, me arrependo de não ter causado arrepios.
É que nem chego a encostar não, sou um friozinho distante ... nem brisa chego a ser.
Nem sei como derrubar as folhas amarelas.
Porque sou insegura demais pra ser ventania.

sábado, 30 de outubro de 2010

Espera cega

- Um abraço, vai.
- Não posso.
- Por que ?
- Já disse, prometo um abraço depois.
- Abraços prometidos doem mais que se você negasse.
- Que ideia ! Você vai ganhar o abraço depois.
- O depois é muito longe. É inseguro...pode ser, pode não ser. E sabe o que dói ? É que eu vou ficar esperando, aqui, de braços abertos.
- Tá, retiro minha promessa, pronto.
- Você não entende, eu já ia esperar mesmo que você negasse.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Equilíbrio


Sentiu também que já não sentia mais o sentimento.
Aquele sentimento que pensou.
Um bom sentir, uma lembrança boa.
Voa livre. É assim que é.
Que de tão bonito dói uma dor mansa.
Um costume de dor, um sentir maduro.
É de paz e novo.
Num suspiro saudoso, encontra.
E todas as palavras não cabem, se confundem.
É compreensão, é como liberdade.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Devestir.

Era um vestido que já nasceu fora de moda.
Seus valores eram mutáveis
e tinha o pano aberto.
Suas cores não tinham nome,
tão indefinidas como seus dons,
tão mornas como seus dotes.
Era meio desajeitado,
cintos não lhe caíam bem.
Gostava mesmo era dos tecidos amarrotados e livres.
Não gostava da gaveta em que ficava,
queria passear pelos cabides,
pelas peles jovens onde pudesse deslizar o quanto quisesse.
Imaginava como seria desfilar por corpos afora
desbravando cinturas e percorrendo quadris.
Tanta costura fora daquele armário velho...
tantas manchas lá dentro.
Entretanto, ele só queria ser vestido,
mas o mundo esperava mais.



segunda-feira, 13 de setembro de 2010

- Ora, não seja tola ! A quem pretende enganar ?
- Enganar ? Não ... falo de sentimentos aqui.
- Tolice, tolice.
- Tolice ...

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Afinidade

- Dói ?
- Só queria que parasse...
- Piora se eu ficar aqui ?
- Acho que só você que faz melhorar.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Maré

E então você levou tua mão até minha cintura
como um laço.
Apoiou tua cabeça em meu colo.
E te abracei sem culpa.
Velei teu sono,
teus cílios,
teus pés macios.
E recaí, confesso.
Não se preocupe !
Vai cessar de novo ...
e retornar
e cessar ...
e então, um dia
a gente espera
evaporar.




Liberdade

Só não espere
que eu não sinta.
Eu sinto muito.
Só não espera
que eu esqueça.
Eu lembro muito.
Se não espero
é que eu já esperei demais.
Eu espero muito.
Só não me espere
pode ser que eu não volte,
que eu não vá,
que eu volte outra.
Eu vôo muito.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

À ventura.




Andava pelas calçadas,
cheia de certezas e fugas.
Mas aquela estrada de barro ...
Pisei assim descalça mesmo.
Larguei mão do costume
e caminhei pelas suas sinuosas curvas
sem destino.
E a rotina me parecia distante.
E o acaso me fascinou de repente.
Tinha sempre uma flor no caminho,
uma lama macia,
um arrepio de vento.
O chão me convidava e eu rolava assim sem hesitar.
Era como meus vôos longos de devaneios,
e eu só via que era real quando sentia meus pés sujos e felizes.
Me ausentei dos dilúvios imaginários,
dos compromissos inadiáveis.
Porque era a liberdade aventureira que gritava,
o meu olhar mais bonito que brilhava.
Era só eu e todo aquele caminho castanho incerto.



sábado, 31 de julho de 2010

Cor

Ofereceu sem pensar muito no porvir:
- Pegue, agora é seu.
Em troca recebeu um olhar tímido que não soube decifrar, mas seus lábios pareciam ignorar a curiosidade e descontrolados abriram passagem pro sorriso, como cortinas vermelhas de palco. Juntaram as mãos uma na outra feito promessa.
- Pode cuidar como quiser, viu ? Não se preocupe ... Tenha medo não.
Os abraços foram ficando fracos...
- Tenha medo não ...
A sinceridade veio assim num repente.
- Como quiser, viu ?
Mãos, pele, vento, cobertor.
- Medo não ... cuida, viu ?
Lembranças que impediam de querer o fim, assim como impediam de pedir de volta.
Mas nem toda doçura e liberdade, nem todo o bem. Doeu. Pegou de volta não, deixou metade.
- Se cuida, viu ?


domingo, 18 de julho de 2010

Gavetas e lençóis

Que se talvez ao invés de amores distantes
houvesse um amor que de tão perto não pode ser?
E se talvez ao invés de tudo que se pode esperar de duas pessoas
houvesse pessoas que gostam de prever e complicar?
É que talvez pudesse ter sido se não fosse...
e talvez ninguém entenda além delas e nem elas entendam muito além.
O medo talvez paralise o sentimento
e talvez esse sentimento seja tão diferente que nem sentir elas sabem não.
Sabem tocar...
Grandes sonhadoras que não cabem em uma vida só... em um sonho só.
Se despedir de um sonho não é fácil para quem se apega a ele.
Saem as duas um tanto feridas do sonho que tiveram
Um tanto saudosas dos belos momentos.
É que o tempo ajuda a fechar as gavetas e talvez o lençol deixe de caber na cama nova.
E fique assim dobrado, quietinho, cheio de histórias pra contar.

domingo, 20 de junho de 2010

Cereja

Cereja em voltas.
Pedi pro tempo parar um tantinho
Só um tiquinho pra gente se vê.
A luz colorida que sai de você
quando bate o sol
já alegra todo meu dia sem cor.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Mas a saudade

É que eu sinto saudades do brilho dos seus olhos e
do encanto que tinha por mim.
Do segredo disfarçado e culpado pelas insônias.
Dos presentes - surpresa.
As horas passando ...
Furtivos encontros.
É na saudade que vejo o quanto era bom notar seus olhos parados na minha direção.
E sua risada sem graça dos seus devaneios proibidos.
É que eu sinto saudade desse tempo.
Do tempo que nasceu a canção
Que me parecia tão mútuo ...
tão meu.
É que eu sou de inseguranças mesmo,
e agora vejo seus olhos já cansados.
Um respeito pelo que passou.
Aquela amizade sem paixão.
Já não espero muito de mim,
nunca soube te conquistar
É que tenho medo da sedução,
do talvez.
É que eu sempre tive medo.
Mas a saudade...

terça-feira, 1 de junho de 2010

... e viveu.

Certa vez ela acordou chorando de saudade do sonho que teve. Tudo que guardava pra ela era mais bonito, o sonho era mais bonito, o toque era mais bonito. Até mesmo as palavras do desabafo acabavam com a magia, as limitações das palavras e as previsões erradas era o que doia.
Sempre gostou de não possuir tocando, de beijar não beijando e foi então que de repente ela sentiu vontade ... Uma vontade que apertava seu peito quando ela achava que a imaginação bastava. Achou-se mudada e então tocou, e então cedeu, e então viveu ... e não foi como das outras vezes que se arrependera, foi um sorriso que não conseguia guardar. Era como se ela tivesse vencido, era uma vida ... e viveu. Mas o problema da vida é que se acaba, cessa. E sempre foi isso o que temia ... a morte, o fim, o depois e mais ... o outro. Sempre gostou de se bastar, era ela e suas teorias, ela e suas fantasias ... acha que nunca aprendeu a se amar, não era o amor que fazia ela se bastar, era a ausência dele.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

A fuga é minha fuga

A fuga não é minha vontade.
É meu instinto
E mais,
É minha fuga.
Não sou do tipo amável.
Sou por parcelas sutis,
Por paciência
E cegueira.
Não creio.
Nem mesmo quando eu vejo,
ou toco,
ou sinto.
Sou sem fé, também.


terça-feira, 27 de abril de 2010

Entendi.

E a generosidade me dói vagarosamente.
Te conhecer dói mais.
Vai além.
Perceber o que não se percebe,
e eu percebi.
Nunca fui de positividades.
Provas nas sutilezas.
Entendi.
Assim, a ilusão é nula.
E engulo a realidade
junto com o salgado
das águas que invadem meus lábios.

Finito.

É de dor
o tempo
Que me paralisa
por medo do finito.
E é meu seguro todo aquele tempo.
Minha vantagem e risco.
E é ele que me trai.
Ela sabe usá-lo com maestria.
Sabe. E isso basta.
Só precisou de uma dose para te dopar.
E eu só querendo a culpa de uma pequena parte
de sua embriaguez.


terça-feira, 20 de abril de 2010

Mas por que isso nos toma ?
Logo eu
que sempre me orgulhei
de mostrar um coração recolhido
um tanto tímido
e gelado.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Lamentável liberdade

Lamentável
Que eu não possua a tal impulsividade
Que eu me limite
E mais e tanto
Que eu não me permita
E que (ainda) me satisfaça
Com pensamentos solitários acompanhados
E solitárias companhias do meu pensamento.
A razão vestida
E eu despida.
O sentimento tão sentido
No seu olhar
E eu tão entregue à minha utópica liberdade.
Lamentável liberdade
Que me impede de voar.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Rompimento com Platão

Despoja meus pensamentos,
meus sonhos,
minha sanidade,
minha certeza.
Como necessidade
ou mais.
Posso chamar de vício ou cura.
Minha imprevisível paixão.
Minha única paixão.
Meu medo e minha lágrima.
Uma porta, aquela saída.
Sua lágrima e sua angústia.
Meu egoísmo e minhas desculpas.
Seu olhar tímido e minha busca.
Ser toda vida ou só vida toda.

De pensar

Os sonhos não sendo sonhos
Os beijos não sendo beijos
As confissões que nunca acontecem
As minhas dúvidas e minhas certezas
Na minha segurança infantil ...
no meu mundo egoísta
A solução dolorosa me fez sorrir
Só de ter assim pra sempre,
só de pensar ...
Sou de pensar.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Feita de Outono


Com folhas secas ao chão.
Tão metamórfico.
Galhos ora tão cheios e formosos ...
Desnudam - se.
Não sou florida.
Não enfeito o dia.
Mostro reais dias cinzentos.
Casacos, chapéu.
Tempestades.
Vento.
De leve.
Mais folhas ao chão.
Delicados abraços pra esquentar.
Um sol tímido.
Nuvens esmagadoras.
Não sou quente.
Não sou fria.
Sou Outono.