segunda-feira, 28 de março de 2022

Não ficar já é partida

Eu revisito você, ainda.

Eu preciso ouvir você dizer que acabou.

Novamente.

Ouvir repetidamente você dizer que acabou.

Até que acabe.

Eu preciso das palavras saindo da sua boca.

Eu preciso da sua boca

me dizendo adeus.

Até que o adeus chegue de vez e me faça um cafuné.

Não o seu. 

Nunca mais 

o seu cafuné.

Não basta saber que você ama outra,

não basta entender a partir das suas entrelinhas,

não basta não ter você aqui.

Eu preciso de toda essa voz que você me nega.

Eu preciso colocar uma escuta no teu coração.

Eu preciso que suas mãos peguem delicadamente o meu amor,

e que diante dele, suas lágrimas caiam, num banho de ternura

e você beije demoradamente cada parte

e se despeça com a certeza de ida.

Eu preciso da certeza de ida, eu vou buscar.


Qual é o meu lugar na sua vida?
Nem você sabe ou finge não saber.
Qual é o tamanho dessa saudade?
Tão curta que logo passa.

Eu não sou mais alguém para quem você faz impossíveis, 
logo eu, viciada em ir atrás do meu desejo
logo eu, tranquei a porta do meu quarto e engoli a chave
pra me proteger do risco de ir até você.


quarta-feira, 16 de março de 2022

Aqui e agora

Aqui, nesse lugar repleto de ontem, eu me permito chorar esse adeus.

As palavras permanecem, apesar de tudo. Elas, que nunca me abandonam, me fazem lembrar de tudo que se foi e era tão bonito. De tudo que já foi eterno um dia. De tudo que parecia tão especial e se acabou ordinariamente. 

Esse olhar que era tão meu. Esse carinho que era tão da minha pele. Essas declarações surpresas que invadiam os meus dias, tão minhas. Esse fazer de tudo pra me ver. Esse chegar na minha casa de madrugada. Esse estar na minha vida inteiramente. Essas piadas que eram tão pra mim. 

E agora é tudo dela.

Por aqui, ainda leio suas palavras doces vindas da eternidade de tantos anos atrás.

Vai passar. Mas as palavras permanecerão. Eu tatuo a minha história no tempo, eu escrevo.