sábado, 30 de outubro de 2010

Espera cega

- Um abraço, vai.
- Não posso.
- Por que ?
- Já disse, prometo um abraço depois.
- Abraços prometidos doem mais que se você negasse.
- Que ideia ! Você vai ganhar o abraço depois.
- O depois é muito longe. É inseguro...pode ser, pode não ser. E sabe o que dói ? É que eu vou ficar esperando, aqui, de braços abertos.
- Tá, retiro minha promessa, pronto.
- Você não entende, eu já ia esperar mesmo que você negasse.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Equilíbrio


Sentiu também que já não sentia mais o sentimento.
Aquele sentimento que pensou.
Um bom sentir, uma lembrança boa.
Voa livre. É assim que é.
Que de tão bonito dói uma dor mansa.
Um costume de dor, um sentir maduro.
É de paz e novo.
Num suspiro saudoso, encontra.
E todas as palavras não cabem, se confundem.
É compreensão, é como liberdade.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Devestir.

Era um vestido que já nasceu fora de moda.
Seus valores eram mutáveis
e tinha o pano aberto.
Suas cores não tinham nome,
tão indefinidas como seus dons,
tão mornas como seus dotes.
Era meio desajeitado,
cintos não lhe caíam bem.
Gostava mesmo era dos tecidos amarrotados e livres.
Não gostava da gaveta em que ficava,
queria passear pelos cabides,
pelas peles jovens onde pudesse deslizar o quanto quisesse.
Imaginava como seria desfilar por corpos afora
desbravando cinturas e percorrendo quadris.
Tanta costura fora daquele armário velho...
tantas manchas lá dentro.
Entretanto, ele só queria ser vestido,
mas o mundo esperava mais.