sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Carnaval e seu fim

Esqueci a tua face em alguma bruma de minha alma 
assim como esqueço que traje vesti em uma ocasião trivial.
Agora teu rosto é um caos como cacos de vidro espalhados no fim de festa. 
Borrões de tinta no lugar de seu semblante. Sombras no lugar das suas emoções.
Você está em mim como confetes achados num chão de setembro. 



quarta-feira, 2 de julho de 2014

terça-feira, 17 de junho de 2014

Tremores íntimos

O receio de ser como o mar revolto que cobiço é o estorvo que impede meus cabelos de embaraçar com o vento. 
O medo que arrefece minha espinha é o que tolhe meu usurpador grito de liberdade. 
O pavor de mirar a desilusão escorrendo pela tez familiar é que refreia minha esfinge libertina.

Contemplo a covardia que me assola com a inércia comum aos fracos.


Carrego no peito meu próprio perdão, tão comum aos conformados.


Na esperança de que os fios brancos venham amainar toda a sofreguidão vou serenando com o passeio dos ponteiros. Entre a paralisia e o assalto sigo inflamando insanidades profanas nas fogueiras clandestinas tão secretas quanto os gemidos dos pervertidos.




quarta-feira, 4 de junho de 2014

Ao amor meu que me salva da vida

Eu poderia queimar meus sonhos um por um.
Em vez disso eu deito em teu peito e choro. Choro manso às vezes, vez ou outra choro com soluço de desespero. Encho de lágrimas, todas as vezes, teu colo aberto e quente.
Eu também poderia rasgar meus desejos impossíveis.
Em vez disso eu divido com você as fraquezas minhas e as do mundo enquanto você permanece atenta às minhas chatices insistentes.
Eu poderia ainda afogar as minhas ideologias, uma por uma.
Em vez disso eu visito tua casa, deito em teu sofá, bagunço teu cabelo, teu chão, tua vida. E grito meu afeto em tua boca.
Eu poderia, embora queira nunca, vender meu tempo.
Em vez disso sossego o coração com as tuas palavras que me enchem de esperança. E danço com você sem ter música tocando. E admiro a tua gargalhada. E passo a apreciar algumas surpresas, as tuas. E começo a reparar nos postes da cidade. E erramos nas escolhas dos destinos. E beijo-te em frente ao portão. E sentimos frio, desliga o ventilador. E sentimos calor, liga o ventilador. E sinto vontade de você todo dia. E você sente calafrios. E sonho com você. E você sonha comigo. E cantamos músicas brasileiras em espanhol. E canto sem saber cantar. E danço sem saber dançar. E amo, muito.

Nos braços teus, amor meu, que sinto a vida sendo genuinamente boa.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Seu jeito vermelho que eu amo

Amor, você é vermelho.

E sangra:
um jeito à flor da pele que chora e grita,
um olhar doce com um sorriso discreto como quem quer descobrir por que te olho,
a linha no queixo que é das coisas mais lindas que tem nesse mundo,
um não-gostar de despedidas.

E sangra:
cicatrizes vorazes,
coragem receosa,
calafrios que te invadem,
um jeito bonito de pedir perdão.

Sangram:
Sua urgência. Seu 'é agora ou nada'. 
Seus temores. Seus ciúmes.
Lágrimas e lágrimas.
Gritos e gritos.
Prazeres e prazeres.
É paixão de tudo.

Amor, você é vermelho e sangra.


quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Da senda que percorri

Quantos cortes ainda vamos sangrar?
Agora que a lucidez é viva, te enxergo mais, mas não te salvo.
Meus ímpetos que te doem, minhas mãos que não te alcançam, minhas palavras que não falam.

A embriaguez não suporta o dia seguinte.

Deixamos a porta entreaberta ou a paixão escapa pelas fendas?
Ouço seu pranto bem perto das minhas lembranças.
Fincando os pés no agora, sou impulsos destrutivos e calor.

Quero matar a sede e não dou conta de beber.