sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Profanação

É que eu tenho um amor, sabe?
Desses que dentro de mim faz festa, grita e dói.
E que às vezes sai pra passear.
Nem a minha mais devassa ousadia consegue romper o tabu. 
Não sei doar, sei viver não.
Como faz pra cessar a vontade do corpo?
Não sei lidar com meu coração acelerado e apertado quando tento tocar.
Tenho medo do outro,
dos corpos externos a mim
cheios de escolhas, sedes e vida.
Não ofereço saciedade, ofereço, sempre, uma liberdade cheia de fome.
Um limite definido pelos meus medos de mim, do que não sou eu, do que não sei ser.
É tudo insegurança e anseio, é tudo meu desejo intangível, minha volúpia sagrada.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Nos passos

E a menina levantaria sorrindo, se o abraço viesse.
Colocaria a canção pra tocar e arriscaria uns passos.
A espera parecia mais longa que suas pernas desajeitadas.
Ela acreditava que no fim da dança, assim que viesse o silêncio,
chegaria seu par. 
E tudo que se ouviria, enfim, seria aquela doce presença.


quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Pontuação singular

Vi queimar todas as cruas rotinas
Espremi incessantemente toda a realidade
Vivendo um dia e depois o outro
Vi queimar os meus papéis
Espremi curiosamente toda a minha ferida viva
Querendo um outro e depois um dia
Queimei todo o meu sossego
Reduzi misteriosamente meus devaneios
Esquecendo um sonho após o outro
Quero queimar a vida inteira
Espremendo ininterruptamente o extraordinário 
Morrendo dia a dia sonhando em todos.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Nem tudo que dói é a saudade. Quando a poesia vem simples em mim e o sol parece queimar mais do que deveria. Ou quando eu descubro os sabores das minhas unhas, ou sinto a força dos meus dedos contra a minha pele. Quando tudo já escurece no meu despertar.Minha voz me denuncia e eu era tão injustiça e
você tão chão, tão céu. 
Vou sempre tentando ocultar meus sentimentos roucos e minha tristeza gentil.
Para um começo é necessário um fim. Mas não sei partir sozinha. Em cortes lentos você vai ficando aos poucos.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A garça


Ficou ali parada
Admirando todo o horizonte
Criando metáforas e devaneios flutuantes.
Explorando os barcos interiores.
Como se o que estivesse vendo ali fora
pudesse mudar tudo o que estava ali dentro.
Respirou fundo algumas vezes.
Se acreditasse em mudanças repentinas
diria que naquele momento em que a garça se foi
sua dor voou junto pelos ares.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Abre a janela, mas tranca a porta.
Rabisca palavras e enterra verdades entre linhas.

terça-feira, 26 de julho de 2011

e rema.

era você que eu via no escuro
foi sua voz que me tocou ainda ontem
espero que você não se perca de mim.

domingo, 24 de julho de 2011

Tão perto

Você sempre me deixa um gosto doce
que vai amargando com a distância que você me impõe.
Uma liberdade recíproca.
Fico aqui sentindo a ausência do calor dos seus segredos.
Em breve eu me enfeitiço.
A rotina fria consome minha quietude.
Eu não te consumo mais.
E sem culpados, sem desculpas
eu permito e você me retém.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Rumores

Nem que eu repetisse desordenadamente
Ou que eu fingisse sempre e sempre
Me engano os mesmo erros
Choro às mesmas luas
Nem se eu me calasse internamente
Ou que eu não escutasse meus gritos sussurrando de novo e de novo
Me sinto os mesmos toques
Cedo às mesmas ilusões
Nem que eu ignorasse controladamente
Ou que eu não perdoasse seus perdões nunca e nunca
Me entrego aos mesmos sons
Calo às mesmas dúvidas
Cansei de não fugir, fingir machuca.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Gosto

Gosto dessa intensidade.
O frio queimando a pele e a gente tão quente
Às vezes acho que você tem gosto de café com chocolate
e sua dor me lembra chuva e terra molhada.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Não te levei para passear nos lugares mais altos,
e você nem brincou com novelos de lã.
A mantive quentinha no meu edredom.
Mais carinho que você dava, nem eu te dei.
Vou sentir tanta falta...
me esperava no sofá, minimalista, discreta,
com todo amor que só a gente entedia.
Não coube um adeus no fim,
a morte nunca me doeu,
me dói a partida e me dói mais o começo da saudade.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

O quarto

Estremeceu seu corpo inteiro. Ora se encolhia, ora se apertava com as mãos. Lembrou de teorias, lembrou de se lembrar de feridas. Dores que voltam mais pesadas. Na penumbra de seu quarto solitário ela se permitiu doer. Depois daquela porta cada parte de si havia de ser controlada e o que se partiu, completo aparentaria. Ficou contente por ainda fazer frio, o clima foi seu acalanto. Sempre sabendo do tempo e de imaginar futuros passageiros estava com a sua pretensão ferida. E todo aperto - que ela tentava adormecer em vão - deixava molhar salgado sua rotina. Nada mais tinha a fazer. Abraçou o desapego mordaz sem esperança de bálsamo, sem cor.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Euforia

Separa um dia inteiro,
a luz da manhã invade seu vestido
Roda ao som colorido
A cortina dança com o vento da tarde
O ar gelado arrepia a nuca
Seus castanhos fios de cabelo saem do nó
Deslizando pelos ombros
Ri com o corpo todo.
Um minuto inteiro dentro de si
Retorna.
Passou ... passou.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Fugir do abrigo

Quem sabe há de vir um dia em que meu peito se abrirá.
E virá a certeza dos incertos momentos que seus olhos riscam em mim.
Não me arrisco mais, meu pessimismo aparece depois da ilusão.
Me quebro, parto, reparo.
Penso mais vezes e no desconsolo me encontro de novo com a tristeza servil.
Seu toque é terno e na doçura dos meus pensamentos impróprios eu me causo a dor.
Eu não saio de mim, e já não me basto.
Quero mais, quero passear meus dias bonitos fora de mim.
Levar seus beijos para acariciar minha vontade de concretude.
Quero acordar segura, só sua presença me bastando para acreditar no que você não diz.

domingo, 22 de maio de 2011

Ilusão

Minha covardia encontrou o silêncio.
Cansei, como sempre faço.
A mentira.
Diante da admiração
da alegria que invade
da tristeza que desampara e é poesia.
É uma cisma leviana.
Me encanto ... me desencanto.
Queria correr em disparate.
Fugir em desatino.

sábado, 14 de maio de 2011

Pra mim

Chorei ao te ouvir.
Um conforto desconfortável.
Achei lindo, uma poesia simples.
Seu contar sincero cheio de confissões.
Seu gostar me encantou.
Por horas.
Me conta mais do teu silêncio.
Me cala e fim.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Rascunho

- Ei, pega pra você.
- Não, é seu, é melhor ...
- Eu tô lhe dando, menina, pega ...
- Eu não sei, acho que não quero.
- Então por que ... Pensei que você ... sei lá.
- Desculpa.
- Não.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

A vida

Se eu pudesse abraçar um instante,
abraçaria constante,
inconstante abraçaria.
Inseguro são seus toques,
atraindo os meus dedos
me traindo, seguro.
Meus poros respondem os seus
e não poderiam.
Seus poros enganam os meus
e só de poder iam.
O olhar distante diz
e me engano tanto.
Toda sua pele me acaricia de longe,
carência de longe.
Carência de você, indevida.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Ainda me lembro ( , ) bem

Aí então (re)conheci o dia ...
abracei bem forte
e sem justificativa.
Passou, passou ...
(A)perto presente,
tão presente.
Lembrar (as)sim,
naquelas palavras escritas no algo(dão).
É, passou sa(b)ido o ano que se foi, (des)percebi.

terça-feira, 8 de março de 2011

Leve

Se o arrepio durar, me leva ?
E aí eu vou.
Sentir a brisa tocar
e o céu formoso
de um melancólico azul,
ou talvez o laranja quente queimando.
Gaivotas ligeiras.
Seguir minha mente insana,
meus sentimentos sãos.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Quimera

- Só queria que você soubesse.
Sorriu sem graça.
- Eu não sei o que te dizer.
- Não ... não precisa dizer, eu sei ... e entendo. De verdade, eu entendo.
- Quero que você fique bem.
- E eu ... quero você.
[olhos tristes]

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Controle absoluto

Sentiu tão forte aquelas palavras que talvez não se recuperasse como achava que poderia.
Se enganava tão cuidadosamente que quando se via contrariada já não sabia mais qual era o sentimento sincero.
Todos sentimentos são sinceros. - Repetia para si mesma, outra vez se convencendo do que deveria sentir.
Nem todo domínio era verdadeiro. Não se protegia da dor ...
não se protegia ou só se protegia.
Ela precisava se possuir. Ser dela, toda. E por inteiro saber dela, de tudo.
Controle absoluto.
Mas às vezes era tão triste que se permitia ser livre por raros momentos de euforia.
Ela - que tanto procurava a liberdade - tão presa era, de si.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Dias tão escuros.

Aos poucos e tão rápido.
Como o sorriso que havia ainda ontem, ainda antes.
Como se a minha mão quisesse se prender
em qualquer coisa, em muitas outras, naquela.
Nem me lembro o dia que ela cobriu meu rosto. Dias tão escuros.
A claridade alegra, invade, insiste.
Passos largos ao oposto da luz.
Abraçar as pernas, sentar no chão, rosto molhado.
Pensamentos soltos sem pretensão, sem pressa.
A urgência de entender tantas palavras e tão grandes sentimentos.
Previsão inútil e teorias vazias.
Necessidade passa ?

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Volátil

- O que você acha?
(Pausa)
- [Suspiro] Carência, menina.
- Defina carência.
- Pele, fome de gente, dúvidas ... Você, sem controle.
- Não ... É só minha dependencia dos sonhos, carência é mais como realidade, não é ?
- Menina, a carência é que tá te fazendo ficar pé no chão e cabeça nos ares. Essa agonia toda ... essa sede de imaginar, esse medo do presente. Isso passa.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Sem hora certa

Me espera até mais tarde ?
Posso aprender a dançar depois das cinco
e te fazer sorrir do meu mal jeito.
Te seduzir até às três da manhã
e depois gargalhar de tudo que eu fiz.
E me calar às seis.
Nessa melodia sou desritmada...
Já é tarde, me espera ?
Ainda posso aprender a namorar,
assim,
sem hora certa.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Solitude nefelibata

Quando a menina saltou lá de cima, sentiu seus cabelos ao vento por incríveis segundos de liberdade.
O tapete vermelho parecia mais distante ali do alto do sofá.
Nem sentiu quando pousou.
Aí pensou ela: - E se eu tentar deitada ?
E assim o fez.
Deitou com os braços abertos e os olhos bem fechados.
Era tanto que imaginava que quase perdia o fôlego dos sonhos.
Não tinha a brisa fresca no rosto, mas tinha o sorriso nos lábios.
De tanto fazer, tinha vezes que as lágrimas vinham.
Gostava das dores, às vezes até mais ...
respeitava a água sutil que lhe percorria o rosto.
Das vezes que se apertava ou das vezes que só curtia
ela entendia que podia voar sim.
Pra bem longe, voar pra ela e só.
Só, pra ela bem longe.